Com Covid e intubada, servidora dá a luz e afirma que filha é seu "pequeno milagre"
“Meu pequeno milagre". É assim que Clarissa Melo Barros, 34 anos, descreve a sua filha Cora, que no próximo dia 12 de maio completa dois meses de vida. Mãe e filha terão seu primeiro Dia das Mães neste domingo, e têm motivos de sobra para celebrarem a data. As duas são vitoriosas na luta contra a Covid-19.
Há exatos dois meses, em 9 março deste ano, Clarissa procurou o Pronto-Atendimento do Hospital Santa Rosa, em Cuiabá, com sintomas da doença. Servidora pública, Clarissa estava grávida de 30 semanas quando testou positivo para o coronavírus no início do mês. O esposo, Fábio Augusto de Barros Corrêa, 37 anos, também contraiu o vírus no mesmo período. Os dois faziam o tratamento em casa, mas no sétimo dia da doença, Clarissa começou a sentir muita falta de ar.
“Essa já era a segunda vez que eu pegava a doença. Na primeira, no ano passado, os sintomas foram leves, mas desta vez, não. Lá pelo sétimo dia, eu comecei a sentir muita falta de ar. Foi quando buscamos o Pronto-Atendimento do Santa Rosa. No mesmo dia, fui internada. Foi bem no auge da segunda onda da Covid aqui em Cuiabá”, relembra.
“Tive momentos de delírio, achava que minha bebê tivesse morrido. Por isso, para mim, o dia em que vi minha filha pela primeira vez que considero como sendo seu nascimento, que foi 23 de março” Descreve a servidora Clarissa Barros
Clarissa recebeu os primeiros atendimentos no PA e com dois dias internada começou uma verdadeira guerra pela sua vida e de sua filha. Seu quadro de saúde era grave: a servidora pública já tinha mais de 50% do pulmão infectado e seu quadro evoluiu para uma piora muito rápida, por conta da doença.
No dia 11 de março, o esposo recebeu a notícia de que seria preciso fazer uma cesárea de urgência para a retirada de Cora. "Só lembro dele me acordando e falando que tinham que tirar a bebê, porque ela estava entrando em sofrimento. Depois disso, não me lembro de mais nada”, recorda Clarissa.
Edson César Mantovani Júnior, médico intensivista do hospital Santa Rosa, conta que o trabalho de toda a equipe foi determinante para salvar a vida da mãe e da filha. “A equipe da unidade que Clarissa estava internada juntamente com a de ginecologia foi exímia na identificação do sofrimento do bebê. Foi preciso levá-las às pressas para o centro cirúrgico. Como Clarissa já estava com um quadro de infecção pulmonar grave e tomando anticoagulantes, tivemos que sedá-la totalmente e intubar para a cesárea. Depois do parto, começamos a segunda batalha, pela vida da Clarissa. Ela ficou na ventilação mecânica e em posição de prona (técnica em que o paciente fica virado de bruços) para melhorar as trocas gasosas”, explica o médico.
Michele Rocha Barbosa, coordenadora do serviço de obstetrícia do Hospital Santa Rosa, conta como foi o momento em que a equipe de médicos decidiu pela cirurgia de urgência para salvar a vida da pequena Cora. “Quando houve uma piora importante do quadro da Clarissa, juntamos uma equipe multidisciplinar para cuidar, monitorizar, definir o melhor momento. Tínhamos médico intensivista, anestesista, obstetra e outros membros da equipe avaliando a cada momento o que poderia ser feito. Não foi uma decisão fácil, mas já era um ambiente instável para o bebê. E resolver a gestação era uma chance de salvar a mãe, melhorando a circulação materna, o padrão de ventilação sem o volume abdominal”.
Apesar de estarem mais familiarizados com a Covid-19 e seu tratamento, após um ano de pandemia, situações como a de Clarissa, ainda impressionam os profissionais. "Ela era uma paciente jovem, gestante, tínhamos uma família inteira para cuidar. É sempre desafiador. As últimas pessoas que ela viu antes da cirurgia foram da equipe médica. A responsabilidade é sempre muito grande. Clarissa estava muito ansiosa, então a equipe conversava com seu esposo fora do leito para mantê-lo sempre ciente e participar das definições”, relembra Michelle, emocionada.
Não foi só a família que ficou emocionada com a situação. A equipe médica também. “Fernanda Caporossi, a médica anestesista, contou que foi marcante contar para Clarissa a decisão do parto, contar da gravidade da situação. Ela chorou muito, pediu para que salvássemos sua vida, para que ela pudesse cuidar da filha, que ia nascer muito pequena e precisava dela. Por inúmeras vezes pediu para que cuidássemos dela e da bebê”, relembra Michelle.
De 31 semanas
Em meio toda essa emoção e cuidados, Cora nasceu, no dia 12 de março, com cerca de 1,7 quilo, com 31 semanas de gestação. Imediatamente após o parto, foi encaminhada à Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal do Hospital Santa Rosa. Ao mesmo tempo, Clarissa seguiu intubada na UTI para tratamento da Covid-19.
Durante 14 dias, enquanto Clarissa seguia na UTI, sua bebê era atendida pela equipe neonatal, devido ao parto prematuro. "Tive momentos de delírio, achava que minha bebê tivesse morrido. Por isso, para mim, o dia em que vi minha filha pela primeira vez que considero como sendo seu nascimento, que foi 23 de março. Foi nesse dia que pude conhece-la pessoalmente", conta Clarissa.
Ainda internada, a servidora pública precisou tomar remédio para secar o leite. "Mas Deus é tão maravilhoso que, mesmo assim, mesmo depois de tudo pelo que passei, meu leite desceu. Hoje, amamento minha filha, que está bem e saudável”.
“Cora e Clarissa foram cuidadas com muito amor e dedicação pela nossa equipe. Com 10 dias após o parto, momento em que ela foi conhecer a filha na UTI neonatal, vivenciamos um momento lindo. E, finalmente, no dia 31 de março, a família toda estava reunida com a alta da bebê. Foi um momento emocionante para o hospital, nos reunimos para celebrar essa vitória”, afirmou Michelle.
Hoje, a família está em casa, grata pelos cuidados que recebeu de todos os profissionais da saúde. "Agradeço por todo o atendimento. São muitos médicos, mas quero citar o Dr. Edson, o Dr. Willian, infectologista, a Dra. Thalita, intensivista, que cuidou de mim com tanta dedicação, me dando conforto quando eu mais precisava. Quero citar também a Dra. Paula Bumlai, da UTI Neonatal, a Dra. Michele, coordenadora da ginecologia e obstetrícia, a Dra Fabiana, a Dra Marina e a Dra Mirella Tabosa, que fizeram o parto. Mas tenho toda a equipe que cuidou da Cora no coração. Essas pessoas foram nossos anjos durante toda essa batalha. Se hoje estamos aqui, em casa, é porque não desistiram de nós. Toda minha gratidão”.
Fonte: RDNEWS